terça-feira, 26 de abril de 2011

Páscoa

Nossa Páscoa em Quito foi um tantinho parada, já que não conhecemos muita gente aqui, e boa parte dos que conhecemos aproveitou o feriado e foi viajar. Na quinta-feira à tardezinha a cidade esvaziou. Nada de transito, nada de gente na rua. Como aqui faz frio quase o tempo todo, os locais logo fogem pra praia quando tem uma oportunidade. 

Sem muito o que fazer, eu e o Felipe pudemos, então, colocar em prática uma das nossas atividades favoritas: sair pra comer!

Italiano na quinta a noite, Italiano de novo no almoço de sexta (não temos culpa, fomos convidados! Mas quem recusa uma massinha, né?), argentino e pizza no sábado… E quando chegou domingo, já não agüentávamos mais comer na rua.

Resolvi fazer um almoço em casa no hotel. Bora aproveitar a cozinha completa e a variedade de ingredientes do mercado? O menu, um clássico da casa dos Pereira: frango assado temperado com creme de cebola. Arroz, feijão e batatinhas coradas pra acompanhar.

É claro que algumas adaptações foram necessárias. Creme de cebola, por exemplo, não existe aqui. Tem de batata, cenoura, champignon, vegetais… Menos o de cebola. Mas tá ok, achei um pozinho de cebola que acabou quebrando o galho. O feijão carioquinha eu também não encontrei, apesar das inúmeras variedades do grão à venda no mercado (o preto, apreciado pelos cariocas – engraçado eles não comerem o carioquinha, né? – tem aos montes). Acabei comprando um que é maiorzinho e mais branquelo que o que a gente ta acostumado. Depois de horas cozinhando (ai, que falta faz a panela de pressão!) e de uma boa refoga com cebola e bacon, até que ficou bom.

E eis o nosso almoço de domingo:

Ah, essas batatinhas! O melhor do prato!!

E de sobremesa, já que por aqui ovo de páscoa não é comum:

Coelhinho de chocolate, presente do marido!


A população equatoriana é bastante religiosa, e pra celebrar a “semana mayor” (como é conhecida a semana santa por aqui), houve um festival de música sacra nas igrejas da cidade.

No sábado a noite fomos até o centro ver duas apresentações que estavam anunciadas no jornal. Anotei o nome das igrejas, pegamos o mapa, um taxi e fomos. Chegamos à primeira igreja, procuramos um lugar confortável e, logo que sentamos, começou! Uma missa… Nada contra, mas não era bem isso que a gente tava procurando.

Como a capela onde seria o outro evento não era longe, resolvemos sair e caminhar até lá. E não é que não encontramos nada de música sacra nessa outra também? Só encontramos uma procissão, pequenininha mas  de arrepiar. A foto ta ruim, mas acho que dá pra ter uma idéia:

Nossa, mas essa foto tá um borrão!


O passeio foi um pouco frustrado, mas valeu por um lado: ver que o que falam sobre o centro histórico de Quito não é brincadeira. É incrível, cheio de capelas lindas e majestosas, capazes de deixar a Sé no chinelo! Como estava muito frio, deixamos o passeio completo pra um outro dia. Já nos disseram que existe tour guiado noturno que é ótimo. Quem sabe no próximo fim de semana? Aí sim eu levo minha câmera fotográfica de verdade e posto umas fotos decentes!

domingo, 24 de abril de 2011

Uma casa, por favor!

Buscar um lar em Quito foi nossa principal tarefa nos últimos dias. Também nos dedicamos um pouco a encontrar um carro, mas isso foi resolvido mais rápido e sem maiores dificuldades, já que não havia muita escolha.

A casa está dando um pouco mais de trabalho...

Começamos com uma corretora que algumas pessoas do trabalho indicaram. Patrícia é o nome dela. Muito ágil, nos mostrou alguns imóveis no mesmo dia em que telefonamos, e todos eram incríveis! O primeiro foi um apartamento que, segundo ela, era "muy pequeño". Coisa de uns 250 metros (fora o terraço, que devia ter mais uns 100)! Os seguintes, então, nem preciso dizer que até davam eco. Nossos móveis, coitadinhos, iam ficar se sentindo muito sozinhos naquelas salas imensas!

Dissemos que preferíamos algo um pouco menor, já que somos apenas dois, e lá fomos no dia seguinte ver mais alguns. Tudo lindo, tudo incrível, mas nada me convenceu. É, eu devo ser mesmo muito difícil de se agradar, mas sabe quando não bate aquela sensação de "ah, é esse"? É tudo tão moderno, tão sensacional, que não parece casa, não "aconchega". 

Resolvemos, então, abrir o leque e tentar outra corretora, também indicação do pessoal da embaixada. E adivinha o nome da pessoa? Patrícia!! Nem preciso dizer que virou Patrícia 2, pra nos poupar de possíveis enganos bem embaraçosos. Patrícia 2 também nos mostrou muitos imóveis, quase todos chévere (pode ser traduzido como massa ou legal), como ela costuma dizer. Os tamanhos é que não diminuíram, são sempre imóveis imensos. 

Até hoje vimos 20 imóveis. Nos primeiros dias, percebendo que nossa memória não seria capaz de guardar tudo, resolvemos colocar no papel nossa opinião sobre cada apartamento e cada casa visitada. Fizemos uma tabelinha, criamos alguns critérios (espaço, cozinha, banheiros, aconchego) e demos notas. Que nerds nós somos! 

Mas funcionou, e temos agora 2 favoritos (um mais que o outro, é verdade). Amanhã pretendemos negociar e fechar um deles. Se tudo der certo, logo volto com as novidades. E quem sabe umas fotinhos?!

Cruzem os dedos por nós!!

domingo, 17 de abril de 2011

Caindo a Ficha

No domingo passado alguém me perguntou se a ficha já tinha caído. Não tinha.
Nas últimas semanas estive tão envolvida com os trâmites da mudança que só fui me dar conta do que estava por vir quando o avião começou a descer e pudemos avistar a cidade. Alí eu viveria nos próximos anos, um lugar onde nunca havia pisado. Meu coração acelerou, comecei a ficar apreensiva. E se eu não gostasse de Quito? E se as primeiras impressões não fossem boas?

E devo dizer que não foram muito boas, mesmo. Aeroporto minúsculo, parecido com os de cidades pequenas no Brasil, chuva e tempo feio, trânsito maluco, cidade bagunçada. O que eu tô fazendo aqui? Onde eu vim me meter? Idéia maluca essa de mudar pra um lugar que eu nem conheço! Era mais ou menos isso que eu pensava na van a caminho do hotel, enquanto o Felipe conversava animadamente com o colega da Embaixada que foi nos receber no aeroporto. 

Desembarcando no Aeroporto Mariscal Sucre

Dias nublados em Quito

Chegar ao hotel já me deixou mais feliz. Durante mais ou menos um mês, enquanto procuramos uma casa e nossa mudança viaja do Brasil até o Equador, ficaremos hospedados em um hotel próximo da Embaixada. E me surpreendi com a qualidade do nosso quarto, que é como se fosse um flat: tem sala, cozinha equipada e máquina de lavar e secar roupas. Tudo muito confortável e bastante barato, se comparado aos preços brasileiros!

Felipe na sala

Boa cozinha!

Porcolinos relaxando no quarto

Depois de almoçar e tomar um banho quentinho, vesti meu casaco mais pesado (fazia uns 12 graus!) e fomos conhecer nosso novo local de trabalho. Andando até a esquina das Calles Amazonas e Colón, onde fica a chancelaria, tivemos mais algumas demonstrações do trânsito doido da cidade. Faixa de pedestre aqui é luxo!! Seta, então...

Foi uma visita rápida na Embaixada, afinal já era fim de expediente. Tempo suficiente apenas pra conhecer os funcionários (e obviamente esquecer os nomes de quase todos) e ver onde serão nossas salas. Já eram 6 da tarde, hora de voltar pra... casa?

Uma passadinha no supermercado da esquina do hotel me deixou feliz. Quantos produtos familiares! Um brinde à globalização! Tão bom saber que não vou passar 3 anos sem queijo branco, leite condensado, maracujá, dove, doriana. Caipirinha...

Pirassununga 51 a 11 dólares!



Hoje, depois de uma semana em Quito, minhas impressões mudaram um tanto. Conhecemos lugares bonitos da cidade, o sol apareceu algumas vezes (a chuva não pára, mas dizem que depois de abril melhora), começo a me familiarizar com o castelhano. A tensão inicial deve, aos poucos, desaparecer. E quem sabe daqui a uns anos, quando for a hora de deixar o Equador para trás, eu sinta essa mesma dorzinha no coração que senti quando vi São Paulo sumir da vista enquanto o avião decolava?


domingo, 10 de abril de 2011

Homeless

Eu e o Felipe saímos do nosso (ex)apartamento há 4 dias, e desde então estamos "itinerantes". Amanhã, quando chegarmos a Quito, eu vou contabilizar 4 cidades diferentes em menos de uma semana (além da capital equatoriana, Brasília, Pirassununga e São Paulo. Fora o pernoite em Uberlândia!). Para o Felipe, que deu uma esticadinha até a casa dos pais dele em Passos, serão 5!

É bastante cansativo ficar sem casa, carregando mala de um lado pro outro e dormindo em uma cama diferente a cada noite (não repetimos nenhuma desde que deixamos o DF!). Por isso to até achando bom ficar em hotel por uns tempos, sem ter que pensar em arrumar a casa, lavar louça, essas coisas. Como nossa mudança só deve chegar a Quito daqui a uns 40 dias, vamos ter um bom mês "de folga". Tempo suficiente pra achar uma casa bem legal, grande o bastante pra hospedar os amigos que forem nos visitar!

E por falar em mudança, aí vão as fotos do contêiner (que quase encheu!), como prometi no último post:




Sei que o post é curto, mas o sono é grande (e nós temos que acordar as 3:30 pra ir pro aeroporto), então vou ficando por aqui. Assim que tiver uma conexão à internet minimamente decente lá em Quito, mando novidades.

Beijos!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Encaixotando o Apê

Segunda-feira saí cedo pra trabalhar, e quando voltei a sala estava assim:



Adotei a tática da negação: me tranquei no quarto, ainda intacto, liguei a TV e fingi que não tinha nada acontecendo lá fora. Era o único jeito de descansar do dia atribulado no trabalho e da correria da mudança.

Ontem não teve jeito. Cheguei em casa, mas ela já não existia mais. Apesar de a cama ainda estar no seu lugar, lençóis, travesseiros e cobertores estavam lacrados em alguma das dezenas de caixas esparramadas pelo apartamento. Aceitamos, então, o convite para dormir na casa de um casal de amigos.

Hoje a mudança vai pro contêiner. Enquanto escrevo aqui, os embaladores/carregadores estão acertando os últimos embrulhos pra descer tudo pro caminhão. Mais tarde vou tentar tirar umas fotinhos do contêiner pra mostrar pra vocês.

Por enquanto, tem eu sentada no chão do quarto, em meio às malas e caixas, terminando esse post:



sábado, 2 de abril de 2011

Despedida

Começo este blog enquanto asso um bolo e preparo um pão (ou melhor, a máquina prepara) na cozinha da minha casa em Brasília. É sábado, mais de oito da noite, e me deu uma vontade súbita de passar alguns últimos minutos neste que é meu cômodo favorito do apartamento, ouvindo boa música e me despedindo de algumas coisas que não vão me acompanhar na nova vida no Equador – minha panificadora, por exemplo, presente de casamento que minha irmã Natalhovski me deu. E dá uma tristezinha…

As duas últimas semanas passaram tão rápido que mais pareceram dois dias. Na terça, 22 de março, finalmente soube que seria liberada do meu trabalho na DP do Itamaraty para acompanhar o Felipe em Quito. A oficialização só aconteceu uma semana depois, na última terça, com um telegrama para a Embaixada me designando para cumprir uma missão transitória de um ano naquele posto (ainda não posso ser removida definitivamente, pois para isso seria preciso que eu tivesse permanecido por dois anos trabalhando aqui em Brasília). E na próxima quarta-feira nossa casa já estará embalada em um contêiner a caminho do porto de Santos, de onde deverá seguir de navio para nossa nova casa.

Quem acompanhou de perto a “saga” da minha liberação sabe que há muito nos preparamos para essa mudança, afinal de contas o Felipe já está removido desde novembro e só tava esperando o ok do meu chefe pra irmos embora juntos. Mas preparar documentação, desmontar a casa, cancelar telefone e outros serviços, despedir dos amigos e da família, isso tudo não cabe muito bem em três semanas. Mas tá tendo que caber! Sorte que o Felipe está de férias e pode cuidar das providências burocráticas.

Amanhã, geladeira, fogão e máquina de lavar roupa seguirão para Minas com meus sogros. Não podem ir conosco pra Quito porque, além de diferenças de voltagem – Brasília é 220, lá 110 – existe um negocinho chamado ciclagem, que também é incompatível entre os dois locais, e pra isso não existe transformador (fique esperto quando for comprar algum eletrônico no exterior!). Na segunda e na terça o pessoal da companhia de mudança vem desmontar os móveis e encaixotar tudo. E na quarta a casa onde vivi nos últimos 10 meses não vai mais existir. Não que eu não esteja acostumada a mudanças. Se minhas contas não estiverem erradas, já morei em 17 casas e 5 cidades diferentes (um amigo do colégio, o André, dizia que meu pai só podia ser traficante. Que outra explicação teria pra tantas mudanças de endereço senão uma tentativa de se esconder da polícia?). Mas essa casa aqui é especial. É a minha primeira “de verdade”, com móveis que não são um improviso, que não parece uma república. É minha primeira com o Felipe. É a primeira que arrumamos do nosso jeito, com o chão xadrez na cozinha do jeito que a gente escolheu, o piso quadriculado verdinho no banheiro do jeito que queríamos, com a estante milimetricamente projetada pra TV, DVD e vídeo-game que eu desenhei. Com a faixinha de panelinas na parede da cozinha, que deu tanto trabalho pra achar…

Hora de tirar o bolo do forno - e de terminar o post! Pretendo escrever com uma certa freqüência, pra compartilhar a experiência de mudar de país com as pessoas queridas que estarão longe. Como eu sou ridiculamente demorada pra responder e-mails (né, Flávia?), vou me sentir menos em falta com os amigos se conseguir mandar notícias por aqui. Espero que vocês gostem!

Beijos!

PS: Pra quem não conheceu nossa casa em Brasília, aí vai uma fotinho do meu cenário de agora.