terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Homenagem

Quando eu nasci, fiquei sem nome durante alguns dias. Quero dizer, não exatamente sem nome, porque minha mãe já tinha escolhido como eu me chamaria, mas o registro ainda nao havia sido feito. Bianca era como ela me chamava. Três dias depois do meu nascimento, quando finalmente meu pai foi me registrar, voltou com uma surpresinha no documento. Resolveu sozinho que me registraria como Stella.

Diz minha mãe que não ficou tão brava porque também gostava desse nome. Mas se fosse eu, pedia o divórcio. Onde já se viu fazer uma coisa dessas sem antes avisar? O fato é que meu pai resolveu me batizar com o nome da mãe dele, que estava gravemente doente na época. Ele achou que a homenagem poderia ajudá-la a melhorar. Coincidencia ou não, a doença cedeu e minha avó saiu do hospital. Viveu mais 27 anos. Faleceu dias atrás, aos 87.

Esse post é apenas uma pequena homenagem a ela.


Descanse em paz vó!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Lembranças Aleatórias

Quando eu era criança, achava que o certo era “baumilha”. Achava também que quase todas as crianças morriam antes de virar adultas (era tanta notícia de morte na tv!), e que eu nunca teria um namorado. Afinal, namorado era coisa de gente muito adulta e muito especial!

Eu tinha a Menina Flor, o cachorro Snif Snif (que vinha com filhotinhos na barriga!), a estrela da Rainbow Bright (que eu não lembro o nome) e um Aquaplay. Como era divertido passar horas vendo as argolinhas nadarem na direção oposta das varetinhas...




Não gostava de ganhar beijos na bochecha, especialmente aqueles molhados que a tias gostam de dar na gente. Também não gostava de pizza porque tinha molho de tomate, e como eu não gostava de tomate... Eu andava com uma almofada na cara na sexta-feira santa, porque não podia suportar o cheiro do bacalhau. Meu sorvete favorito era o de milho verde (esquisito, né?), e eu achava simplesmente impossível ler a “palavra” LTDA. Não gostava de tirar aquelas fotos comemorativas na escolinha, saía em todas com cara de choro (pra não falar outra coisa. pena que não tenho nenhuma aqui comigo pra mostrar). Não entendia porque diabos a gente dava uma flanelinha pro pai no dia dos pais. Quem podia gostar de ganhar uma flanelinha?

Adorava ir pro clube de campo no fim de semana com a minha família e a família do Bergara. Teve um dia que me perdi voltando da piscina pro chalé. Solução? Abrir o berreiro. Funcionou (acho que vou voltar a usar essa tática).

Também teve o dia que, não sei como, me enfiei debaixo de um balanço enquanto brincava. O detalhe é que tinha uma menina no balanço, a Fernandinha. Aí o balanço veio e pá – na minha cabeça. Eu tinha uns 5 anos, acho. Só lembro do uniforme empapado de sangue e da sensação de ser o acontecimento do dia na escolinha. E a Natalia, que não queria me dar um brinquedo, tipo uma estrela com várias pontas que grudavam nas superfícies (alguma coisa parecida com isso aí embaixo), e resolveu então grudar a bendita em cima da tv. Fui lá e puxei a estrela. A TV veio junto...


Ah, e como esquecer de quando enfiei uma faca na tomada? De cabo de metal, detalhe. A energia da casa se foi e a ponta da faca, também. A gente guardava essa faca até uns tempos atrás. Onde será que foi parar?

E a vez que o Fernando, cansado de ter que aturar a irmãzinha 8 anos mais nova, me ofereceu um Chokito pra que eu não fosse a um museu com ele? Eu topei. Fiquei em casa vendo Jaspion e comendo meu Chokito, felizona. Meu irmão, aliás, me sacaneava demais... A melhor história com ele é a da carne. Um dia a gente tava em um churrasco na casa de uns amigos dos meus pais e ele me viu jogando uma gordurinha de carne por cima do muro, no vizinho. Com aquela cara de “você fez cagada”, ele me disse a frase tão temida: “Vou contar pra mãe!!”. E a partir de então passou a me chantagear: “Stella, pega água pra mim”, “Eu não, vai você”, “Olha que eu conto da carne!”,“Ta bom, ta bom!!”. E lá ia eu, toda apavorada.

Eu jogava Phantom System, taco, queimada. E queimei o Atari do meu irmão duas vezes porque tirei a fita sem desligar (é, eu merecia um pouco das maldades dele). Também pulava elástico e brincava de 3 corta, dicionário e stop com meus primos. Falando em primos, tinha os famosos teatrinhos que a gente ensaiava pro natal, com direção da prima mais velha Adriana. Como se ensaio adiantasse alguma coisa... Me lembro de ficar o tempo todo perguntando baixinho pra Natalia e pra Ju, as outras estrelas da peça: “e agora, o que que eu falo, mesmo?”. E quando a peça acabava, a gente ia colher amora e abacate no quintal da casa da vó.

Bons tempos. Deu saudade...


domingo, 21 de agosto de 2011

Sumiço

Foram 50 dias de ausência, e não tenho uma boa desculpa pra esse período todo sem escrever. Preguiça, falta de um tema interessante, esquecimento, enfim... Várias pequenas razões, nenhuma muito forte.

Nesse mês e meio algumas coisas importantes aconteceram. A mudança da embaixada, por exemplo, foi um processo importantíssimo e muito positivo pra gente que trabalha lá. Antes ficávamos em um imóvel total repartição pública, carpetão marrom sujo e cabos de telefone passando por baixo dele e saindo por um buraquinho no pé da mesa, salas improvisadas, toneladas de papel guardadas aleatoriamente por décadas. Agora estamos em um edifício novo, com a maior cara de empresa privada. Ânimo pra trabalhar melhorou 100%.

Outra coisa legal que aconteceu nesse tempo foi que nossa casa ficou com cara de casa, finalmente. Providenciamos fotos, quadros, móveis, plantas, essas coisas que deixam o ambiente acolhedor e com menos cara de improviso. Acho que finalmente se acabaram os fins de semana no Kiwi (loja de coisas pra casa e ferramentas, tipo leroy merlin) e no Sukasa (a Etna ou TokStok daqui). Mas acho que só terminamos tudo por que tivemos um empurrãozinho do terceiro item dessa lista de acontecimentos do período: as visitas.

Primeiro veio minha mãe, acompanhada da Sandra (uma amiga dela muito querida, que também é minha madrinha de casamento) e da minha prima Juliana. Elas passaram 10 dias aqui conosco. Como eu e o Felipe estávamos trabalhando, elas aproveitaram pra passear bastante e conhecer alguns lugares turísticos aqui perto de Quito. Foram pro Centro Histórico, Mitad del Mundo, Cotopaxi, Otavalo... Quando foram embora conheciam muito mais do país que nós, que estamos aqui há 4 meses, e aproveitaram pra nos dar algumas dicas. É mole?


Chica, Ju, Juba, Sandra, mãe e eu. Os cachorros ficaram tristíssimos quando elas foram embora. Será que rolava um suborno comestível quando elas tavam aqui?

Foi muito bom tê-las por aqui, comer comida de mãe, ouvir um pouco sobre como andam as coisas lá no Brasil... Pena que passou tão rápido!

Logo depois da partida delas, chegaram mais visitas: Fred e Hercília, um casal de amigos que está morando em Lima. Em maio nós tinhamos ido visitá-los e conhecer um pouquinho do Peru, e agora foi nossa vez de retribuir a hospitalidade. Aproveitamos algumas dicas das primeiras visitantes e fomos apresentar a eles (e conhecer também!) um pouco do Equador. Sexta-feira foi dia de Mitad del Mundo:

O Felipe sobre a falsa linha da metade do mundo...

 
...e eu na verdadeira

Não me pergunte por quê, mas o ovo pára em pé na latitude 0

Sábado foi dia de Cuicocha (uma cratera de vulcão recheada de águas critalinas) e Cotacachi, a cidade dos couros (é, aqui cada cidade é "especializada" em algum artesanato) e do La Mirage, o restaurante mais brega do mundo.


Algum lugar entre Cuicocha e Quito


No domingo tava um sol delicioso (e raro) e, aproveitando a presença dos amigos, fizemos um churrasquinho (mas cara, como é difícil acender a churrasqueira a 2500 metros de altitude! Qualquer dia dedico um post inteiro ao assunto, com fotos ilustrativas!).

Enfim, foi um fim de semana um tanto corrido, mas muito bom. Deu pra relaxar, botar o papo em dia e matar a saudade!

Espero que me perdoem pelo sumiço... Não vou prometer escrever de novo em breve, porque esse tipo de promessa tem tudo pra dar errado comigo (sou relapsa demais!). Mas como já tenho uma idéia na cabeça, que sabe não sai qualquer coisa daqui a uns 49 dias?


sábado, 2 de julho de 2011

Era o que faltava

Instalados na nova casa, era tempo de começar a tomar aquelas providências que sempre são necessárias depois de uma mudança: comprar um ou outro móvel, algumas decorações, um tapete aqui, um cortina ali. Conseguimos resolver boa parte nas duas primeiras semanas, só ficaram faltando umas poucas coisas, que deixamos pra depois (a preguiça falou mais alto). Mas não podia faltar uma coisa pra completar o clima de “casa”:

Jujubão

Quem me conhece sabe que eu adoro cachorro, e que eu só não tinha nenhum em Brasília porque morava em apartamento (acho muito ruim pro cão ficar preso em um espaço pequeno o dia todo – principalmente sozinho). Aqui moramos em uma casa com um bom espaço aberto, e temos uma empregada que ama cachorro (sério, acho que ela gosta mais que eu. A primeira coisa que faz quando chega é perguntar pelo Juba, isso quando não dá um abraço no bicho). Então, porque não arrumar logo dois?

Dona Chica

O Juba tem 70 dias e é mestiço de Golden Retriever com Labrador. Um colega da embaixada conhecia os donos dos pais dele, e me disse que estavam precisando muito vender os filhotes (eram 8) porque a data da segunda vacina estava se aproximando e eles não tinham dinheiro pra bancar. Estavam pedindo uma ninharia, e no dia marcado fomos escolher nosso perrito. Como este seria o cachorro do Felipe, foi ele quem escolheu. Na hora achei o bicho meio parado, desanimado. Os irmãozinhos dele eram muito mais brincalhões e eu confesso que preferia um mais agitadinho. Hoje estou aliviada pela nossa escolha. Se o Juba já fura uma meia ou um sapato meu por dia, imagina o que fariam os irmãozinhos endiabrados dele.

A Chica (leia-se “Tica”, como em espanhol) tem uma história bem diferente. Ainda não sabemos que idade tem, só sabemos que é vira-lata. Muito vira-lata. Daquelas que a gente olha, olha, mas não consegue identificar nenhum resquício de raça, imaginar o que tenham sido seus pais, seus avós... A adotamos de uma ONG aqui do Equador, a Proteción Animal Ecuador (PAE), que tem um trabalho bem sério: pra poder adotar é necessário preencher uma ficha de solicitação informando em que condições pretende criar o animal, e pagar uma taxa pelas vacinas, vermifugação e castração (todos os animais tem que ser castrados antes da adoção).  Fomos visitar o abrigo no último sábado, e foi bem difícil escolher qual seria a companheira do Juba. Ficamos lá por mais de uma hora até que eu me decidisse pela Chica. Eram muitíssimas opções (o funcionário que nos atendeu disse que há mais ou menos 100 cães por lá atualmente), e acho que só consegui escolher porque a bichinha começou a pular em mim, meio que abraçando minha perna com as patinhas. Ela também parecia ter muita energia, uma pré-requisito pra aturar o Jubão. Coitada... Ele pentelha tanto que ela já deve estar querendo voltar pra rua!


Agora já temos um pouco do clima de "casa"! Só faltavam essas dois aqui de baixo pra melhorar...


Tumivaldo e Cidolina, que saudade!!


sábado, 25 de junho de 2011

A Chegada

Brasília, 1992. O jovem casal de italianos está ansioso pela chegada da sua mudança. Ele, diplomata, se acostumando ao trabalho em seu primeiro posto. Ela, grávida do primeiro filho, comprou todo o enxoval na Itália com receio de não encontrar no Brasil o berço e as roupinhas que queria. No dia marcado pela empresa que realizaria a entrega, preparam a câmera de vídeo pra registrar o momento tão aguardado, a hora de reencontrar suas coisas, sua casa. Chega o caminhão, ela liga a câmera e começa a filmar toda a cena: os carregadores descendo e se dirigindo para a parte de trás do conteiner e abrindo as trancas. Os dois estrangeiros vibram com o primeiro item exposto depois que as portas são escancaradas: o colchão deles, colocado em pé, como que fechando o restante da mudança no caminhão. Os funcionários retiram o colchão e... nada. O conteiner está vazio. Em algum lugar entre Roma e Brasília toda a carga foi roubada - exceto o colchão. Ela se desespera e desliga a câmera.

Os italianos nunca souberam os detalhes do roubo, se foram carcamanos ou malandros brasucas os responsáveis pelo sumiço. Receberam do seguro uns 50% do que valia sua mudança roubada e com isso se viraram para comprar móveis, eletrodomésticos, roupas e outros artigos pessoais. O choque foi grande, mas é claro que hoje, quase 20 anos depois, estão recuperados. Depois do Brasil, moraram no Equador, na Itália e voltaram pro Equador. Agora estão de mudança pra Republica Dominicana e nos alugaram sua casa aqui em Quito.

Há algumas semanas foi a nossa vez. Depois de alguns probleminhas com a companhia que estava trazendo nossas coisas,  o conteiner finalmente chegou. Foi meio de surpresa, estávamos trabalhando e nos ligaram avisando que a mudança estaria em casa em uma hora. Aquela correria pra passar no hotel, pegar nossas coisas, fazer check-out e ir até a casa. E quando o caminhão chega...



Abrindo o lacre...

abrindo a porta...


Ufa!
Todos os 104 volumes empacotados em Brasília chegaram sãos e salvos, depois de 55 dias de viagem! De prejuízo, só um copo quebrado.

Ainda que bem que só pegamos a casa dos italianos, e não a sorte...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Lado Bom

Esse post vai parecer um exercício de psicólogo. Não dizem que tudo tem dois lados, o bom e o ruim? Pra dar uma pausa na falação negativa do Equador (já que sempre que vejo alguma coisa ruim por aqui automaticamente sai a frase “no Brasil não é assim”), resolvi escrever sobre coisas boas que encontramos no país. Um exercício e tanto pra mim, que tenho tendências quase nada pessimistas…

Esqueçamos, então, o sistema bancário, o trânsito maluco, o clima chuvoso, a péssima pizza local e os taxistas que se recusam a te levar ao seu destino.

Eis a lista “vou sentir saudade quando partir do Equador”:

  • Suco de amora: aqui tem em todo canto, faz parte dos sucos “básicos” dos restaurantes, junto com o de laranja, limão, abacaxi. Tem uma cor linda, gosto de bala e preço amigo (ao contrário do Brasil, onde um punhadinho de amora pode custar alguns bons reais).
  •  Vistas: o relevo local, com inúmeras montanhas e vales, nos permite ter vistas lindas em quase qualquer ponto de Quito. Podemos contar nos dedos de uma mão as casas e apartamentos que visitamos que não tinham uma janelinha sequer com uma vista espetacular da cidade.

  • Bom atendimento: os equatorianos são muito simpáticos e servis, e o bom atendimento nos restaurantes costuma ser regra. E eu não to nem falando de restaurantes caros, não. Pra quem acaba de sair de Brasília – que é capaz de arruinar a qualidade de qualquer franquia – a mudança é drástica!

  • Vida social: esse tópico é mais um mérito da comunidade brasileira que do próprio país (a lei seca local, na verdade, parece ter acabado com a vida noturna por aqui). Desde que chegamos já fomos a duas feijoadas, uma roda de samba, um festival de cinema brasileiro, apresentação de músicos…

  • Turismo: ainda pouco explorado, o Equador é um excelente lugar pra se fazer turismo. Isso porque o país tem um pouquinho de tudo: serra, vale, praia, floresta, ilha. No último fim de semana estivemos em Baños, uma cidadezinha de 20 mil habitantes no pé do Tungurahua, um dos mais de 30 vulcões equatorianos, e atualmente em atividade (expelindo só cinza). O atrativo são umas piscinas termais, com águas vulcânicas quentinhas, e o turismo de aventura (rafting, trilha). Como o tempo era curto e a idéia era relaxar, ficamos só nas piscinas, mesmo. E olha só a vista:

Piscina do hotel Luna Runtun, em Banõs. Recomendo muito!

  •  Preço do combustível: dirigimos cerca de 400km na viagem do último fim de semana. O gasto com combustível foi de 18 dólares. No Brasil, onde você consegue chegar com 30 reais de gasolina?

Até que a lista ficou grandinha, né? Minha terapeuta ficaria orgulhosa.

Semana que vem tem emoções mais fortes: finalmente nossa mudança vai chegar!

domingo, 15 de maio de 2011

O Espanhol

As pessoas dão risada quando eu digo, mas é muito sério: eu só sei falar espanhol no presente. Há uns 3 anos eu estudei a língua durante um semestre, nível "Basico 1". Aquele em que a gente aprende a dizer como se chama, quantos anos tem e o que faz da vida. Ah, e claro, aprendemos também a dizer o nome das cores, um ou outro bicho, algumas profissões e a contar até 100. É bom que você fica sabendo como se apresentar em algum evento social e... só! Não me pergunte porque alguém acha que é importante saber falar "bombeiro" em um idioma estrangeiro e ao mesmo tempo não ter idéia de como pedir um sanduíche na padaria.

Minha sorte é que o espanhol não é tão diferente do português, e todo brasileiro já vem com o portunhol de fábrica. Mas experimenta passar uma semana tentando se comunicar com estrangeiros (no meu caso, com os locais) sem usar um subjuntivo, um pretérito (e olha que eu to falando dos mais simples, nem precisa ser o mais-que-perfeito), um imperativo... É um saco! É tão chato que um dia eu notei que tinha parado de falar. A gente tava no carro da corretora que nos alugou a casa, ela e o Felipe (que fala espanhol muito bem) num super papo, e eu com várias opiniões e comentários sobre o assunto, mas sem falar nada porque não conseguia expressar minhas idéias com tão pouco vocabulário. Acabei ficando calada durante todo o trajeto porque não sabia falar.

As pessoas dizem que é assim mesmo, que com o tempo eu "pego" o espanhol e pronto. Mas eu sou muito perfeccionista pra isso, me recuso a continuar falando errado até a osmose linguística fazer efeito. Então defini que vou fazer aulas. Nas últimas semanas eu tentei encontrar um curso para estrangeiros, assim eu poderia unir o útil (aprender a língua) ao agrádável (conhecer pessoas). Mas esses cursos são muito focados em adolescente que vem fazer intercâmbio e tem 20 horas semanais livres pra estudar, o que nao é meu caso. Vou ter, então, que apelar pra um professor particular.

Mas aí, na semana passada aconteceu uma coisa engraçada. Eu e o Felipe estávamos assistindo House, que tem sido nossa novela por aqui (passa todo dias às 9 da noite, não tem problema se perdermos um capítulo ou outro e a gente sempre sabe como acaba), e de repente me dei conta de que as legendas em espanhol já não são um sofrimento. Nas primeiras semanas eu ia dormir com o cérebro meio que doendo, depois de passar o dia traduzindo mentalmente as conversas que tinha pela rua. E ver tv também era bastante incômodo, não sabia se prestava mais atenção no audio em inglês ou nas legendas em espanhol. E nesse dia, depois de um mês no Equador, percebi que o cérebro meio que entrou em modo automático. Não que eu estivesse entendendo todas as palavras que apareciam ali escritas nas legendas (mas em um episódio do House, mesmo em português, quem entende?), mas é como se eu tivesse aprendido a ignorar os detalhes e focasse só na idéia geral. Aí eu consigo ver o programa todo e entender a história do episódio sem sofrer com as "lombadas" do idioma.

Obvio que isso não me fez desistir das aulas, principalmente porque entender é uma coisa, e falar é outra totalmente diferente. Vou procurar o tal professor e espero que daqui a uns 3 ou 4 meses eu já consiga me expressar sem parecer um personagem daquelas propagandas velhas do CCAA. Enquanto isso, vou vendo meus programinhas na tv, bem sossegada. Bom, ao menos os legendados.Os dublados são papo pra outro post...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Temos uma casa!

E eu não digo "casa" no sentido figurado, como quem quer dizer "um lar" (apesar de ser isso também). O "casa" lá do título do post é um imóvel com quintal, varanda, churrasqueira - e laranjeira e limoeiro plantados no jardim! Um imóvel que não tem elevador. Daqueles que a gente não tem que se preocupar se está incomodando vizinhos acima ou abaixo, e onde podemos ter cachorros sem ter pena de os coitados passarem o dia presos em um lugar fechado.

Sim, nós fechamos contrato no último final de semana, e decidimos pela casa!

Antes de vir para Quito, eu ja tinha tratado de tirar a idéia de morar em casas da minha cabeça. Todos que estavam aqui diziam que era muito difícil achar casas boas e seguras na cidade, que elas só existiam em locais mais afastados e que para chegar até esses lugares existe trânsito. E quando chegamos aqui, vimos que isso é verdade.

A gente é tonto, então? Tá indo contra o que todo mundo diz, só pode ser idiotice!

Talvez. Mas a casa... Ah, a casa! É tão linda! Foi o único dos 20 imóveis que visitamos onde eu me senti "em casa". Nada de modernosidades, nada de decoração fina, nada de frescuras. Um gramado, janelas de madeira (raridade por aqui), cozinha grande o suficiente pra caber as visitas mais chegadas e uma cara de "casa da família".

Mas nossa escolha não foi assim tão passional quanto deve estar parecendo. Examinamos muito bem o caminho que vamos fazer todos os dias até o trabalho, fizemos os trajetos nos horários de pico e acabamos estimando que vamos gastar uma hora por dia no carro. Nada mal pra quem já morou em São Paulo (o trânsito de Brasília também não andava lá essas coisas quando saímos de lá).

Outra vantagem: a casa fica em uma cidadezinha chamada Cumbaya, distante 10 km de Quito e 400 metros mais baixa, o que nos garante 3 ou 4 graus mais na escala Celsius. Bastante coisa pra quem está sofrendo com a média de 12 que vem fazendo por aqui.

A maior vantagem de todas? Essa vocês vão gostar: a casa é o ideal pra receber os amigos que se animarem a nos visitar!!

Estamos na contagem regressiva pra chegada da nossa mudança, que está prevista para o dia 22.

Podem ir comprando as passagens...


terça-feira, 26 de abril de 2011

Páscoa

Nossa Páscoa em Quito foi um tantinho parada, já que não conhecemos muita gente aqui, e boa parte dos que conhecemos aproveitou o feriado e foi viajar. Na quinta-feira à tardezinha a cidade esvaziou. Nada de transito, nada de gente na rua. Como aqui faz frio quase o tempo todo, os locais logo fogem pra praia quando tem uma oportunidade. 

Sem muito o que fazer, eu e o Felipe pudemos, então, colocar em prática uma das nossas atividades favoritas: sair pra comer!

Italiano na quinta a noite, Italiano de novo no almoço de sexta (não temos culpa, fomos convidados! Mas quem recusa uma massinha, né?), argentino e pizza no sábado… E quando chegou domingo, já não agüentávamos mais comer na rua.

Resolvi fazer um almoço em casa no hotel. Bora aproveitar a cozinha completa e a variedade de ingredientes do mercado? O menu, um clássico da casa dos Pereira: frango assado temperado com creme de cebola. Arroz, feijão e batatinhas coradas pra acompanhar.

É claro que algumas adaptações foram necessárias. Creme de cebola, por exemplo, não existe aqui. Tem de batata, cenoura, champignon, vegetais… Menos o de cebola. Mas tá ok, achei um pozinho de cebola que acabou quebrando o galho. O feijão carioquinha eu também não encontrei, apesar das inúmeras variedades do grão à venda no mercado (o preto, apreciado pelos cariocas – engraçado eles não comerem o carioquinha, né? – tem aos montes). Acabei comprando um que é maiorzinho e mais branquelo que o que a gente ta acostumado. Depois de horas cozinhando (ai, que falta faz a panela de pressão!) e de uma boa refoga com cebola e bacon, até que ficou bom.

E eis o nosso almoço de domingo:

Ah, essas batatinhas! O melhor do prato!!

E de sobremesa, já que por aqui ovo de páscoa não é comum:

Coelhinho de chocolate, presente do marido!


A população equatoriana é bastante religiosa, e pra celebrar a “semana mayor” (como é conhecida a semana santa por aqui), houve um festival de música sacra nas igrejas da cidade.

No sábado a noite fomos até o centro ver duas apresentações que estavam anunciadas no jornal. Anotei o nome das igrejas, pegamos o mapa, um taxi e fomos. Chegamos à primeira igreja, procuramos um lugar confortável e, logo que sentamos, começou! Uma missa… Nada contra, mas não era bem isso que a gente tava procurando.

Como a capela onde seria o outro evento não era longe, resolvemos sair e caminhar até lá. E não é que não encontramos nada de música sacra nessa outra também? Só encontramos uma procissão, pequenininha mas  de arrepiar. A foto ta ruim, mas acho que dá pra ter uma idéia:

Nossa, mas essa foto tá um borrão!


O passeio foi um pouco frustrado, mas valeu por um lado: ver que o que falam sobre o centro histórico de Quito não é brincadeira. É incrível, cheio de capelas lindas e majestosas, capazes de deixar a Sé no chinelo! Como estava muito frio, deixamos o passeio completo pra um outro dia. Já nos disseram que existe tour guiado noturno que é ótimo. Quem sabe no próximo fim de semana? Aí sim eu levo minha câmera fotográfica de verdade e posto umas fotos decentes!

domingo, 24 de abril de 2011

Uma casa, por favor!

Buscar um lar em Quito foi nossa principal tarefa nos últimos dias. Também nos dedicamos um pouco a encontrar um carro, mas isso foi resolvido mais rápido e sem maiores dificuldades, já que não havia muita escolha.

A casa está dando um pouco mais de trabalho...

Começamos com uma corretora que algumas pessoas do trabalho indicaram. Patrícia é o nome dela. Muito ágil, nos mostrou alguns imóveis no mesmo dia em que telefonamos, e todos eram incríveis! O primeiro foi um apartamento que, segundo ela, era "muy pequeño". Coisa de uns 250 metros (fora o terraço, que devia ter mais uns 100)! Os seguintes, então, nem preciso dizer que até davam eco. Nossos móveis, coitadinhos, iam ficar se sentindo muito sozinhos naquelas salas imensas!

Dissemos que preferíamos algo um pouco menor, já que somos apenas dois, e lá fomos no dia seguinte ver mais alguns. Tudo lindo, tudo incrível, mas nada me convenceu. É, eu devo ser mesmo muito difícil de se agradar, mas sabe quando não bate aquela sensação de "ah, é esse"? É tudo tão moderno, tão sensacional, que não parece casa, não "aconchega". 

Resolvemos, então, abrir o leque e tentar outra corretora, também indicação do pessoal da embaixada. E adivinha o nome da pessoa? Patrícia!! Nem preciso dizer que virou Patrícia 2, pra nos poupar de possíveis enganos bem embaraçosos. Patrícia 2 também nos mostrou muitos imóveis, quase todos chévere (pode ser traduzido como massa ou legal), como ela costuma dizer. Os tamanhos é que não diminuíram, são sempre imóveis imensos. 

Até hoje vimos 20 imóveis. Nos primeiros dias, percebendo que nossa memória não seria capaz de guardar tudo, resolvemos colocar no papel nossa opinião sobre cada apartamento e cada casa visitada. Fizemos uma tabelinha, criamos alguns critérios (espaço, cozinha, banheiros, aconchego) e demos notas. Que nerds nós somos! 

Mas funcionou, e temos agora 2 favoritos (um mais que o outro, é verdade). Amanhã pretendemos negociar e fechar um deles. Se tudo der certo, logo volto com as novidades. E quem sabe umas fotinhos?!

Cruzem os dedos por nós!!

domingo, 17 de abril de 2011

Caindo a Ficha

No domingo passado alguém me perguntou se a ficha já tinha caído. Não tinha.
Nas últimas semanas estive tão envolvida com os trâmites da mudança que só fui me dar conta do que estava por vir quando o avião começou a descer e pudemos avistar a cidade. Alí eu viveria nos próximos anos, um lugar onde nunca havia pisado. Meu coração acelerou, comecei a ficar apreensiva. E se eu não gostasse de Quito? E se as primeiras impressões não fossem boas?

E devo dizer que não foram muito boas, mesmo. Aeroporto minúsculo, parecido com os de cidades pequenas no Brasil, chuva e tempo feio, trânsito maluco, cidade bagunçada. O que eu tô fazendo aqui? Onde eu vim me meter? Idéia maluca essa de mudar pra um lugar que eu nem conheço! Era mais ou menos isso que eu pensava na van a caminho do hotel, enquanto o Felipe conversava animadamente com o colega da Embaixada que foi nos receber no aeroporto. 

Desembarcando no Aeroporto Mariscal Sucre

Dias nublados em Quito

Chegar ao hotel já me deixou mais feliz. Durante mais ou menos um mês, enquanto procuramos uma casa e nossa mudança viaja do Brasil até o Equador, ficaremos hospedados em um hotel próximo da Embaixada. E me surpreendi com a qualidade do nosso quarto, que é como se fosse um flat: tem sala, cozinha equipada e máquina de lavar e secar roupas. Tudo muito confortável e bastante barato, se comparado aos preços brasileiros!

Felipe na sala

Boa cozinha!

Porcolinos relaxando no quarto

Depois de almoçar e tomar um banho quentinho, vesti meu casaco mais pesado (fazia uns 12 graus!) e fomos conhecer nosso novo local de trabalho. Andando até a esquina das Calles Amazonas e Colón, onde fica a chancelaria, tivemos mais algumas demonstrações do trânsito doido da cidade. Faixa de pedestre aqui é luxo!! Seta, então...

Foi uma visita rápida na Embaixada, afinal já era fim de expediente. Tempo suficiente apenas pra conhecer os funcionários (e obviamente esquecer os nomes de quase todos) e ver onde serão nossas salas. Já eram 6 da tarde, hora de voltar pra... casa?

Uma passadinha no supermercado da esquina do hotel me deixou feliz. Quantos produtos familiares! Um brinde à globalização! Tão bom saber que não vou passar 3 anos sem queijo branco, leite condensado, maracujá, dove, doriana. Caipirinha...

Pirassununga 51 a 11 dólares!



Hoje, depois de uma semana em Quito, minhas impressões mudaram um tanto. Conhecemos lugares bonitos da cidade, o sol apareceu algumas vezes (a chuva não pára, mas dizem que depois de abril melhora), começo a me familiarizar com o castelhano. A tensão inicial deve, aos poucos, desaparecer. E quem sabe daqui a uns anos, quando for a hora de deixar o Equador para trás, eu sinta essa mesma dorzinha no coração que senti quando vi São Paulo sumir da vista enquanto o avião decolava?


domingo, 10 de abril de 2011

Homeless

Eu e o Felipe saímos do nosso (ex)apartamento há 4 dias, e desde então estamos "itinerantes". Amanhã, quando chegarmos a Quito, eu vou contabilizar 4 cidades diferentes em menos de uma semana (além da capital equatoriana, Brasília, Pirassununga e São Paulo. Fora o pernoite em Uberlândia!). Para o Felipe, que deu uma esticadinha até a casa dos pais dele em Passos, serão 5!

É bastante cansativo ficar sem casa, carregando mala de um lado pro outro e dormindo em uma cama diferente a cada noite (não repetimos nenhuma desde que deixamos o DF!). Por isso to até achando bom ficar em hotel por uns tempos, sem ter que pensar em arrumar a casa, lavar louça, essas coisas. Como nossa mudança só deve chegar a Quito daqui a uns 40 dias, vamos ter um bom mês "de folga". Tempo suficiente pra achar uma casa bem legal, grande o bastante pra hospedar os amigos que forem nos visitar!

E por falar em mudança, aí vão as fotos do contêiner (que quase encheu!), como prometi no último post:




Sei que o post é curto, mas o sono é grande (e nós temos que acordar as 3:30 pra ir pro aeroporto), então vou ficando por aqui. Assim que tiver uma conexão à internet minimamente decente lá em Quito, mando novidades.

Beijos!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Encaixotando o Apê

Segunda-feira saí cedo pra trabalhar, e quando voltei a sala estava assim:



Adotei a tática da negação: me tranquei no quarto, ainda intacto, liguei a TV e fingi que não tinha nada acontecendo lá fora. Era o único jeito de descansar do dia atribulado no trabalho e da correria da mudança.

Ontem não teve jeito. Cheguei em casa, mas ela já não existia mais. Apesar de a cama ainda estar no seu lugar, lençóis, travesseiros e cobertores estavam lacrados em alguma das dezenas de caixas esparramadas pelo apartamento. Aceitamos, então, o convite para dormir na casa de um casal de amigos.

Hoje a mudança vai pro contêiner. Enquanto escrevo aqui, os embaladores/carregadores estão acertando os últimos embrulhos pra descer tudo pro caminhão. Mais tarde vou tentar tirar umas fotinhos do contêiner pra mostrar pra vocês.

Por enquanto, tem eu sentada no chão do quarto, em meio às malas e caixas, terminando esse post:



sábado, 2 de abril de 2011

Despedida

Começo este blog enquanto asso um bolo e preparo um pão (ou melhor, a máquina prepara) na cozinha da minha casa em Brasília. É sábado, mais de oito da noite, e me deu uma vontade súbita de passar alguns últimos minutos neste que é meu cômodo favorito do apartamento, ouvindo boa música e me despedindo de algumas coisas que não vão me acompanhar na nova vida no Equador – minha panificadora, por exemplo, presente de casamento que minha irmã Natalhovski me deu. E dá uma tristezinha…

As duas últimas semanas passaram tão rápido que mais pareceram dois dias. Na terça, 22 de março, finalmente soube que seria liberada do meu trabalho na DP do Itamaraty para acompanhar o Felipe em Quito. A oficialização só aconteceu uma semana depois, na última terça, com um telegrama para a Embaixada me designando para cumprir uma missão transitória de um ano naquele posto (ainda não posso ser removida definitivamente, pois para isso seria preciso que eu tivesse permanecido por dois anos trabalhando aqui em Brasília). E na próxima quarta-feira nossa casa já estará embalada em um contêiner a caminho do porto de Santos, de onde deverá seguir de navio para nossa nova casa.

Quem acompanhou de perto a “saga” da minha liberação sabe que há muito nos preparamos para essa mudança, afinal de contas o Felipe já está removido desde novembro e só tava esperando o ok do meu chefe pra irmos embora juntos. Mas preparar documentação, desmontar a casa, cancelar telefone e outros serviços, despedir dos amigos e da família, isso tudo não cabe muito bem em três semanas. Mas tá tendo que caber! Sorte que o Felipe está de férias e pode cuidar das providências burocráticas.

Amanhã, geladeira, fogão e máquina de lavar roupa seguirão para Minas com meus sogros. Não podem ir conosco pra Quito porque, além de diferenças de voltagem – Brasília é 220, lá 110 – existe um negocinho chamado ciclagem, que também é incompatível entre os dois locais, e pra isso não existe transformador (fique esperto quando for comprar algum eletrônico no exterior!). Na segunda e na terça o pessoal da companhia de mudança vem desmontar os móveis e encaixotar tudo. E na quarta a casa onde vivi nos últimos 10 meses não vai mais existir. Não que eu não esteja acostumada a mudanças. Se minhas contas não estiverem erradas, já morei em 17 casas e 5 cidades diferentes (um amigo do colégio, o André, dizia que meu pai só podia ser traficante. Que outra explicação teria pra tantas mudanças de endereço senão uma tentativa de se esconder da polícia?). Mas essa casa aqui é especial. É a minha primeira “de verdade”, com móveis que não são um improviso, que não parece uma república. É minha primeira com o Felipe. É a primeira que arrumamos do nosso jeito, com o chão xadrez na cozinha do jeito que a gente escolheu, o piso quadriculado verdinho no banheiro do jeito que queríamos, com a estante milimetricamente projetada pra TV, DVD e vídeo-game que eu desenhei. Com a faixinha de panelinas na parede da cozinha, que deu tanto trabalho pra achar…

Hora de tirar o bolo do forno - e de terminar o post! Pretendo escrever com uma certa freqüência, pra compartilhar a experiência de mudar de país com as pessoas queridas que estarão longe. Como eu sou ridiculamente demorada pra responder e-mails (né, Flávia?), vou me sentir menos em falta com os amigos se conseguir mandar notícias por aqui. Espero que vocês gostem!

Beijos!

PS: Pra quem não conheceu nossa casa em Brasília, aí vai uma fotinho do meu cenário de agora.